A doença grave ou terminal é um momento de sofrimento em que nem sempre o paciente consegue externar não só as dificuldades com as limitações do seu corpo, mas principalmente o que se passa em sua alma. Se a medicina chegou ao seu limite e o doente está em cuidados paliativos, são possíveis novos tipos de técnicas terapêuticas complementares. O resultado pode levar à calma, ao bem-estar no corpo, à redução dos efeitos colaterais de medicamentos, ao alívio de dores, a um novo sentido da morte que terá reflexos não só no paciente como também nos familiares que estão nos cuidados do dia a dia. Musicoterapia, hipnose, frequência de brilho, arteterapia, reiki, reflexologia. Diversos pacientes terminais têm passado por esses tratamentos todos os dias. A experiência tem mostrado aos terapeutas que as reações podem até ser diferentes – o ponto em comum são as respostas positivas e uma melhor compreensão integrada do ser humano – corpo, mente e espírito. Mas é bom que se diga: nenhum deles exime o tratamento convencional.
Apesar de nem sempre serem reconhecidas como ciência, essas terapias têm embasamento filosófico e teórico, resultados de estudos que agrupam ensinamentos de alguns milhares de anos. É o caso da reflexologia, que tem registros de 2.500 anos antes de Cristo e tem como principais pontos massagens neurossensoriais estimulantes e sedativas nas extremidades como pés, mãos, orelhas, coluna, face e crânio. Mestre em saúde coletiva e naturóloga, Luciana Cohen Persiano Neves explica que aplicar a reflexoterapia em pacientes terminais ou com doenças graves tem como primeiro resultado a melhora do sistema imunológico do paciente. “A técnica não trata do bem-estar físico do paciente, como outras terapias, mas, sim, estimula uma renovação celular, trabalhando com a liberação de endorfina”, afirma.
Além de a reflexologia trazer ao paciente o toque, por vezes tão necessário, ela também alivia dores e proporciona relaxamento. Mas há contraindicações para determinadas doenças, como é o caso do câncer, explica Luciana. Como há essa estimulação celular e maior circulação sanguínea, a terapia pode provocar disseminação de metástases no paciente.
No caso da musicoterapia, é na memória e trajetória do paciente que estão seus principais pontos de apoio. Nem sempre há consciência de que cada ser humano tem produção sonora própria – o batimento cardíaco, o choro, a respiração, os movimentos peristálticos, o balbucio, a oralidade, a musicalidade. O que fazemos, no decorrer de nossa existência, é aprimorar essa produção, e quando a musicoterapia trabalha com os pacientes terminais a ação é para o resgate de cada um desses aspectos em sua vida.
A psicóloga, com especialização em musicoterapia, Simone Presotti Tibúrcio, afirma que a técnica ocupa lugar em que muitas vezes o paciente se vê no vácuo, pois neste momento a cura buscada pela medicina tem de ceder espaço ao alívio e ao consolo. O trabalho passa pela utilização da função revitalizadora da sonoridade da voz, da manipulação de instrumentos musicais e da riqueza das canções.
“O musicoterapeuta utiliza esses recursos como alívio das dores e para obtenção de prazer e bem-estar no corpo. O resgate da história do paciente é feito a partir do repertório criado por ele mesmo, estimulando imagens positivas de conforto e tranquilidade ou mesmo musicando essa passagem sempre angustiante e difícil para todos os envolvidos”, explica.
Para chegar a esse histórico, o primeiro passo, segundo Simone, é uma avaliação do paciente. Ocorre com a maioria dos atendimentos clínicos, com entrevista de anamnese, na qual o paciente ou responsáveis fornecem os dados sobre a história de vida do paciente. No caso da musicoterapia são levantados dados sobre as experiências sonoro-musicais. “Esse material é de grande importância para o procedimento clínico, pois demarca o background sonoro e musical, no qual o musicoterapeuta irá se deslocar durante as sessões.”
O resultado é o alívio do sofrimento. “Durante o processo musicoterápico, o paciente irá se apropriar de sua musicalidade, podendo fazer isso através da audição e da produção musical. Desta forma, mesmo as pessoas que jamais tiveram educação musical formal poderão manusear, explorar e tocar os instrumentos durante as sessões, estimulando áreas e funções cognitivas, elaborando eventos vividos e descobrindo sons e ritmos internos”, analisa Simone.
Qualquer que seja a terapêutica complementar, além de resultados palpáveis, há um maior, que leva à interiorização do paciente e um novo re-significado da vida e, por consequência, melhor aceitação dos desafios de uma doença grave e a própria finitude. A tanatóloga, arteterapeuta e artista plástica Annie Rottenstein explica que atualmente vivenciamos um processo de hipertrofia do ego, em que a sociedade passa a ser a instância suprema de tudo. “O fim é visto como uma crueldade, com revolta. A sociedade não aceita sequer o pensamento sobre a morte.”
Desenvolvedora do trabalho, a Arte da Ponte, Annie tem como principal proposta levar as pessoas, sejam elas terminais ou sadias, a encarar a finitude como algo presente em nossas vidas diariamente, chamadas de pequenas mortes diárias – como a perda de um trabalho, o término de um relacionamento. Mais ainda, a proposta é uma reavaliação do próprio sentido da vida, onde essa questão filosófica tem amparo na terapêutica da arteterapia. A partir daí deixa-se a formulação verbal, que em seu entendimento acaba nos ajudando muito mais a conceituar do que sentir nossos problemas, e passa a trabalhar com a pintura, o desenho, a modelagem, a arte e o bordado, imaginação criativa, o poder do som.
São suportes que ajudam na construção/desconstrução, “pedra por pedra”, brinca Annie. Desta forma, as pessoas podem situar se a vida que levam a satisfaz ou não, e a partir daí redefinir seus caminhos, elaborar e analisar erros, repensar valores, escutar a alma, trabalhar com sua espiritualidade. Isso não implica religiosidade, mas, sim, num realinhamento e harmonização de corpo e alma. “A proposta é a percepção do que realmente é sólido na vida, com um reforço do eixo pessoal, da força interna de cada um. Sabemos que, se a pessoa passa a conhecer sua força interior, a ouvir sua manhã, ela terá uma vida intensa e, consequentemente, uma morte boa. Mas, se a vida foi intranquila, a passagem não será boa”, observa.
É um trabalho para a tranquilidade, o equilíbrio, o trabalho do reiki, terapia oriental, redescoberta no Japão por Mikao Usui no início do século 20, que tem como principal terapêutica a canalização da energia chamada vital, com imposição de mãos, para restabelecer o equilíbrio energético. Mestre e terapeuta em reiki, Paulo Celso Costa Goulart, afirma que a técnica trabalha com o alinhamento dos chakras possibilita desintoxicação emocional e gera redução nas dores, alívio nos efeitos colaterais de medicamentos e até maior capacidade de suportar tratamentos mais agressivos.
O melhor é que é uma terapia que pode ser aplicada à distância, desde que haja consentimento do paciente ou de um de seus familiares. “O reiki é uma energia inteligente que atua, exatamente, nos pontos que o paciente necessita”, observa Goulart. Nos casos mais graves, segundo ele, ajuda não só no desapego da matéria, na entrega, na compreensão e aceitação do fim.
A psicóloga com especialização em psicoterapia da hipnose, Ângela Cotta, também atua em trabalho com pacientes terminais, através da técnica desenvolvida pelo psicanalista Milton H. Erickson. É uma maneira, segundo ela, de controle da dor, diminuindo ou extinguindo a depressão, numa ajuda ao alívio do sofrimento humano e também suprimindo traumas. Através de uma terapêutica, que pode ser natural ou induzida, ajudando muitas vezes o paciente revivenciar sua trajetória até o momento em que se encontra para que possa trazer as lembranças boas, a alegria.
Ângela observa que a hipnose ainda sofre preconceitos e é desconhecida da maioria da população, mas é uma terapêutica que trabalha com estados de alteração da consciência do paciente. Por meio dela, as pessoas podem desenvolver novo conceito e re-significação da vida naquele momento como também ajudar no desapego e na dificuldade em lidar com a morte. “O paciente ganha mais qualidade de vida, porque através deste trabalho vai reaprendendo a cuidar de si com carinho, mesmo estando doente, afastando o desespero, a depressão”, diz.
O terapeuta e consultor de empresas Louis Burlamaqui trabalha com a terapia da frequência de brilho, desenvolvida pela australiana Christine Bay em 1986, um realinhamento energético que lida com os diversos portais corporais, e acima do corpo, que estão com sua energia obstruída por diferentes motivos. No paciente terminal, a frequência, que é feita por meio de toques sutis, provoca conforto, paz, destacando que aquele momento faz parte da vida de qualquer pessoa, que a morte do corpo não significa a morte da consciência. A terapia dura, em média, 40 minutos. “Ela ajuda na expansão da consciência e na ampliação da percepção”, observa Burlamaqui.
Lidar com os medos, com a falência do corpo, com a confusão mental que tudo isso causa em um paciente já frágil. As terapias complementares e terapêuticas só têm um objetivo – ajudar cada paciente terminal a lidar com a sua dificuldade naquele momento de sua vida.
Fonte: Revista Viver Brasil
Texto: Eliana Fonseca
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