O pólen retirado das plantas ajuda a prevenir o envelhecimento precoce e é boa fonte de proteínas, que enriquecem a dieta de quem não come carne

Na escola, aprendemos que o pólen é produzido pelas plantas e que também é a principal fonte de proteínas, vitaminas e lipídeos das abelhas. E se você descobrisse que essa bolotinha, depois de coletada, pode ser consumida tranquilamente por nós?

Há dez anos, a pesquisadora Lígia Bicudo de Almeida Muradian experimentou o pólen apícola pela primeira vez. “O sabor é diferente dos outros produtos das abelhas e sua textura é crocante”, afirma. Hoje, ela é professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP) e, além do gosto do pólen, descobriu que o alimento tem uma série de propriedades funcionais que beneficiam a saúde. O grão contém boas quantidades das vitaminas A, C e E, conhecidas pela ação antioxidante. Ao serem ingeridas, elas eliminam os radicais livres – resíduos do metabolismo celular agressivos para o organismo. As vitaminas C e E, principalmente, capturam esses vilões e os neutralizam, evitando que ataquem as células e provoquem envelhecimento precoce ou causem doenças como o câncer.

Nos estudos realizados na USP, foram encontrados até 500 μg/g de vitamina C (11,1% da recomendação diária); até 71 μg/g de vitamina E (7,1%) e até 5 μg retinol/g de vitamina A (8,4%). “Encontramos também as vitaminas do complexo B”, afirma Lígia Muradian. Uma delas é a B12. Junto ao ferro, essa substância é responsável pela regeneração do sangue. Por isso, previne a anemia, que é a diminuição do número de glóbulos vermelhos do sangue. Outras vitaminas do complexo B ainda ajudam no bom funcionamento do sistema nervoso central.

“Em 1999, uma pesquisa mostrou que o pólen também possui compostos com propriedades antibacterianas e antitumorais”, acrescenta Lidia Maria Ruv Carelli Barreto, coordenadora do Centro de Estudos Apícolas da Universidade de Taubaté (Unitau).

O pólen apícola é o composto de grãos de pólen e secreções das abelhas que é transportado das plantas à colmeia.

Proteínas para os músculos

Mais do que as vitaminas, o pólen apícola é reconhecido por sua boa quantidade de proteínas. A composição nutricional varia com a espécie vegetal, as condições ambientais, a idade e o estado nutricional da planta quando ele está se desenvolvendo. Mesmo assim, é possível estimar que, em média, o alimento é composto de 25% de proteínas. Elas são responsáveis pela construção e regeneração dos músculos. Outra boa notícia: o grão possui praticamente todos os aminoácidos essenciais, ou seja, todos os diferentes tipos de “tijolinhos” necessários para o corpo humano.

Além disso, segundo Lígia Muradian, o pólen apícola tem importância nutricional por apresentar carboidratos, lipídeos e minerais. “O produto ainda é rico em fibras, com 4% desse nutriente na composição”, completa. As fibras, vale ressaltar, são importantes por melhorarem o funcionamento intestinal.

Grão de história

“O pólen apícola é conhecido desde a antiguidade, tendo sido consumido por gregos, romanos e egípcios. Hipócrates (460-377 a.C.), o primeiro médico a se concentrar na prevenção de doenças, escreveu sobre os benefícios do pólen de abelha para a saúde humana”, diz Lígia Bicudo de Almeida Muradian, pesquisadora da USP. Durante séculos, o alimento tem sido consumido por diversas culturas, mas só recentemente os pesquisadores começaram a provar suas propriedades terapêuticas. No Brasil, a produção de pólen apícola iniciou-se no final dos anos 1980, mas só se intensificou a partir do ano 2000.

Como é coletado?As abelhas fazem bolinhas com o pólen durante seu voo de coleta. O apicultor precisa colocar uma espécie de rede na entrada das colmeias, fazendo que as abelhas atravessem um pequeno orifício por onde não passam as bolotinhas maiores. Assim, elas são recolhidas e levadas a uma estufa para serem secas e ficarem com o aspecto que conhecemos.

Só duas colheres

O consumo não precisa ser exagerado para que o corpo sinta os benefícios. Entre uma e duas colheres (sopa) de pólen apícola seco por dia é o suficiente. Pode ser ingerido em jejum, pela manhã, ou como ingrediente de pratos doces e salgados. É encontrado em lojas de produtos naturais, empresas ou associações de apicultores. “Nunca compre em ‘beira de estrada’, pois o pólen apícola pode estragar com sol direto, altas temperaturas e excesso de umidade. Se o produto não for corretamente processado, pode causar transtornos alimentares e até graves intoxicações”, afirma Lidia Maria Barreto.

Também é importante ficar atento a sinais de alergia. Os sintomas são vermelhidão no corpo e coceira na pele. Os casos mais graves têm sinais como rouquidão, edema na região interna da garganta e falta de ar. Caso algum deles apareça, o ideal é não consumir mais o pólen apícola antes de consultar um especialista.

É possível estimar que, em média, o alimento seja composto de 25% de proteínas

Fonte: Revista Vida Natural